A pessoa que ocupa o lugar de garagem ao lado do meu no meu local de trabalho muda de tempos a tempos. Esteve um tempo sem ninguém. Depois apareceu uma moça de cabelo comprido. Nas primeiras vezes eu dava-lhe os bons dias com um sorriso. Ela, surpreendida, respondia entre dentes sem nunca olhar para mim. Nem o corpo virava para mim. Acho que se me cruzasse por ela na rua nem a reconheceria. Passado um tempo continuei a dar os bons dias, mas já sem sorriso. Não me fazia sentido, o sorriso. Ela nem olhava para mim... Entretanto comecei a perceber que ou fazia de tudo para ficar dentro do carro enquanto eu não saia dali, ou se eu já a apanhava fora do carro, despachava-se dali para fora o mais depressa possível, até parecia que se encolhia para não me dizer nada. Percebendo que a incomodava deixei de lhe dar os bons dias. Coisa que me moía, tal névoa na minha boa disposição matinal. Mas há que respeitar a forma de estar de quem nos rodeia.
Há umas semanas a moça de cabelo comprido deixou de aparecer e veio uma moça de cabelo curto. Logo no primeiro dia que nos cruzámos deu-me um sonoro bom dia, com um sorriso radiante. Retribuí contente com a troca. Esta minha nova vizinha de estacionamento procura me dar os bons dias, saindo depressa do carro quando eu já estou a ir embora ou fazendo tempo que eu saía do meu carro quando, já caminhando para os elevadores, volta-se completamente para mim e com um grande sorriso deseja-me um bom dia. Para não a demorar neste jogo do bom dia, já comecei a lhe acenar de dentro do carro com um sorriso, o que ela retribuiu com contentamento. Como eu, a moça do cabelo curto também valoriza estas trocas e faz de tudo para fomentá-las.
Com isto não estou a querer criticar a moça de cabelo comprido, que pode ter uma vida muito mais infeliz que a moça de cabelo curto (ser completamente introvertida ou ainda não ter percebido a vantagem deste tipo de comportamentos), mas apenas realçar que a nossa atitude tem bastante influência em quem nos rodeia. Somos agentes activos na felicidade de quem nos rodeia, por mais pequenina que seja a nossa influência. É também bom para nós conseguirmos criar estas pontes com quem nos rodeia, pois mesmo no meio de muita infelicidade termos assim pequenos momentos que podem abrilhantar os nossos dias e os de quem nos rodeiam.
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